Contabilidade de Ganhos, o que é isso?

A Contabilidade de Ganhos (CG) é uma abordagem baseada em princípios de contabilidade e de gestão abrangentes que fornece informações de apoio à decisão para a melhoria da rentabilidade da empresa. Embora a CG não seja um assunto tão novo, ainda é inovador para a contabilidade gerencial. Ela identifica os fatores que limitam uma organização de atingir o seu objetivo (o lucro, no caso de empresas com fins lucrativos, ou outras medidas, para empresas públicas ou terceiro setor), e, em seguida, concentra-se em medidas simples em áreas-chave para alcançar estas metas.

A CG foi proposta pelo falecido Eliyahu M. Goldratt (falecido 11 de junho de 2011) como uma alternativa à contabilidade de custos tradicional. A Contabilidade de Ganhos é uma técnica de gestão utilizada como medida de desempenho da Teoria das Restrições (TOC). É a inteligência de negócios utilizada para maximizar os lucros, no entanto, ao contrário de contabilidade de custos que se concentra principalmente em “corte de custos e redução de despesas para aumentar o lucro”, a Contabilidade de Ganhos se concentra principalmente no aumento do Ganho.

Conceitualmente, a CG procura aumentar a velocidade ou taxa na qual o Ganho (ver definição de G abaixo) é gerado por produtos e serviços no que diz respeito à restrição de uma organização, podendo esta restrição ser interna (produção, preço) ou externa (mercado, fornecedores) à organização.

Os conceitos da Contabilidade de Ganhos

A alternativa de Goldratt começa com a idéia de que cada organização tem um objetivo e que as melhores decisões aumentam o seu valor. O objetivo de uma empresa é facilmente definido: Ganhar dinheiro, hoje e no futuro. A Contabilidade de Ganhos aplica-se a empresas sem fins lucrativos também, mas elas têm que desenvolver um objetivo que faça sentido em seus casos individuais. A Contabilidade de Ganhos também dedica especial atenção ao conceito de “gargalo” (referida como restrição na Teoria das Restrições) na fabricação ou processos de manutenção. A Contabilidade de Ganhos usa três medidas de receitas e despesas, como segue abaixo:

Ganho (G) é a taxa na qual o sistema produz “unidades de meta”. Quando as unidades de meta são o dinheiro (em empresas com fins lucrativos), o rendimento é vendas líquidas (V) menos custos totalmente variável (CTV), geralmente o custo das matérias-primas, (G = V – CTV). Note-se que (G) só existe quando há uma venda do produto ou serviço. Produção de materiais estocados faz parte do Investimento e não do Ganho. O Ganho tem um conceito semelhante ao da margem de contribuição da contabilidade de custos tradicional.

Investimento (I) é o dinheiro que está preso no sistema. Isto é, dinheiro associado ao estoque, máquinas, edifícios e outros ativos e passivos. No início da Teoria das Restrições (TOC), o “I” variava entre “inventário” e “investimento”. O termo preferido agora é só “investimento”. Observe que a TOC recomenda que o inventário seja valorizado estritamente pelo custo totalmente variável associada com a criação do inventário, e não com alocações de custos adicionais e rateios.

Despesa Operacional (DO) é o dinheiro que o sistema gasta na geração de “unidades de meta.” Para os produtos físicos, DO são todas as despesas, exceto o custo das matérias-primas. DO inclui manutenção, aluguel e folha de pagamento, depreciação, etc.

As organizações que desejam aumentar o alcance de sua Meta devem, portanto, exigir que os gerentes testem as decisões propostas contra estas três perguntas. Será que a mudança proposta?

– Aumenta o Ganho? Como?

– Reduz o Investimento? Quanto dinheiro é liberado?

– Reduz a Despesa Operacional? Como?

As respostas a estas perguntas determinam o efeito das decisões ou mudanças propostas sobre as medidas a nível de sistema: Lucro Liquido (LL) = Ganho – Despesa Operacional. Retorno sobre o investimento (RSI/ROI) = Lucro Líquido / Investimento.

Relevância

Um dos aspectos mais importantes da Contabilidade de Ganhos é a relevância da informação que produz. Os gestores precisam de um sistema de informação gerencial que faça a ponte entre as suas decisões e a lucratividade da empresa. Eles precisam de um conjunto de medidas que os ajudem a responder à questão: se eu tomar esta decisão, a lucratividade da minha empresa vai aumentar? Hoje, para ajudar a responder a essa pergunta, a maioria das empresas utiliza medidas da contabilidade de custos e medidas de eficiência de máquinas, de equipamentos, custo por unidade, etc. Algumas usam até mesmo um sistema mais sofisticado, o Activity-Based Costing-ABC, mas todas essas ferramentas podem levar a decisões equivocadas.

A Contabilidade de Ganhos, mostra que para se chegar a conhecer as fontes internas de lucratividade da empresa é preciso compreender a relação entre os recursos (capacidade) da empresa e seus produtos/serviços (mix de venda). É preciso dispor de medidas que permitam a visualização da contribuição de cada parte do sistema para a lucratividade total.

E na prática?

Na prática é mais fácil do que parece, embora a maioria dos empreendedores (graças as  dificuldades da contabilidade tradicional) não esteja habituado a ter este tipo de “rédeas”  da empresa em suas mãos.  Em nossas futuras postagens vamos discutir a aplicação da Contabilidade de Ganhos para empresas industriais, comerciais, de servicos e Startups.

No caso das Startups, acredito que o debate será particularmente enriquecedor, principalmente por estas três abordagens:

1 – Enquanto não há receita (Ganho), consideramos todo o dinheiro e esforços gastos como Investimento (I), ou também contabilizamos Despesas Operacionais (DO)?

2 – Dependendo da fase do projeto, a restrição (gargalo) pode “pular” de um lado para outro, variando entre dinheiro, aquisição de clientes, retenção de clientes, etc. Será possível fazer uma relação genérica entre as fases de desenvolvimento de uma Startup e as possíveis restrições ?

3 – Para propor um pivô, ou mesmo uma mudança menos substancial no modelo de negócio, basta então definir qual o impacto no Ganho (G), Investimento (I) e na Despesa Operacional (DO)?

Estes assuntos fica para outra postagem, ok? 🙂

Não deixe de seguir estes links para saber mais:

Definição de Contabilidade de Ganhos no Wikipédia.

Site mantido por Thomas Corbett, autor do interessante livro: Bússola Financeira –  (Nobel, 2005, 1a edição, 208p. ISBN 8521313071)

Um entre tantos bons textos encontrados na internet sobre o assunto.

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